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Tudo fresco, orgânico e delicioso! |
Todos os alimentos que o meu host produz são vendidos em duas diferentes feiras de fim de semana. Como WWOOFers a gente não precisa ir em nenhuma delas, porque os nossos fins de semana são livres, maaaãs logo na minha primeira semana eu decidi ir nas duas.
Na sexta-feira a gente então colhe o que vai ser vendido no fim de semana, lava e coze algumas beterrabas (ele vende elas tanto cozidas como cruas), separa os caixotes e as plaquinhas com os nomes dos alimentos e coloca tudo na van. As batatas e as cenouras ele vende cheias de terra mesmo ahaha
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Repolho, couve, brócolis + frio |
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As lindas e saborosas alfaces :) |
A primeira é uma feira de rua que acontece todos os sábados aqui na cidade. A rua principal (que é praticamente a cidade inteira, dado o tamanho dela) é toda ocupada por barraquinhas de legumes, frutas, carne, roupas, bolsas, sapatos, bandeiras (sério, tem uma barraquinha que vende só bandeiras!), macarons, pães e outras coisas. Nessa feira há mais 3 produtores orgânicos, então a concorrência é grande pro meu host. Como essa acontece na rua mesmo, nós temos que montar o nosso stand. Então bora lá acordar às 6h da manhã, chegar na cidade em 20 minutos e subir a estrutura de ferro.
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Perdi uns 3 dedos segurando o ferro no frio que tava. |
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Barraquinha quase pronta :D |
A segunda feira acontece aos domingos, numa cidade próxima à Paris, em um mercado fechado. MUCHO mais fácil, os stands ja estão montados, então e só levar as 400 caixas de coisas para vender. EXCETO pelo fato de que: temos que sair de casa às 4h20 da manhã porque a cidade é longe pra caramba. Nessa feira, o meu host é o único produtor orgânico, então ele já tem bastante clientes fiéis que voltam toda semana para comprar com ele.
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A placa AB significa Agriculture Biologique e indica os produtores orgânicos. |
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Ovos, doces, sucos e tudo pronto! |
Bom, lá fui eu, lhynda e charmosa ajudar a vender as coisas. Relembrar é viver e até semana passada era inverno aqui na França. MEDIZ como se sobrevive vendendo legumes na rua quando o termômetro marca 0 graus? Meia-calça, luva, cachecol, touquinha, 5 camadas de casaco e polainas não foram o suficiente. Eu ficava pulando de um lado pro outro no stand. Quando batia o vento então (e a sensação passava a ser menos 250 graus) umas partes de mim morriam lentamente.
Mas né, estamos no gelo, é pra congelar e comecei a botar todo um conhecimento de francês que não existe na minha vida na prática. Errei umas 300 vezes o que era o que, chamei meu host umas outras 200 pra dizer "não faço a menor ideia do que essa pessoa quer", sorri e acenei. Depois de um tempo fui pegando o jeito, aprendendo o nome de vários legumes que eu nem sei como chamam em português, sabendo perguntar quanto, alguma outra coisa, tem moedas pra ajudar no troco por favor? :)
As feiras aqui são um pouco diferentes das do Brasil. Ninguém fica gritando para atrair clientes ahaha o negócio é mais phyno. O lema do meu host é "quer comprar compra, não quer, há quem queira". Então nada de pechincha, nem no final do dia. E ele também não deixa as pessoas ficarem pegando nos alimentos "pra ver se tá maduro" ahaha a pessoas aponta o que quer e a gente pega. No domingo uma senhorinha estava apertando umas cebolas e eu sinceramente achei que meu host ia dar um tapinha na mão dela.
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Don't touch. It's art. |
As pessoas aqui também trazem SEMPRE suas próprias sacolinhas para as feiras. Saquinhos de pão usados e amassados, mas super reutilizáveis. Isso também acontece no mercado. A sacolinha é paga em todos os lugares e não vi ninguém até hoje comprando porque todo mundo tem uma na bolsa/leva as coisas na mão mesmo (o que me fez ficar sem sacolinhas para colocar roupa suja da roça e tive que embolá-las e colocar num bolso da mochila que até agora está emanando suaves camadas de um cheiro estranho).
E não só as sacolinhas, mas todo mundo devolve todas as embalagens! De ovo, dos sucos, das geléias e compotas. Meu host reutiliza todas elas. Galera super consciente <3
Entretanto, nem tudo é só alegria nas feiras aqui da França. Na feira de rua da minha cidade, por exemplo, em vez do pastel com caldo de cana (SDDS), eles tem um carrinho vendendo só: carne de cavalo. GENTE MAS QUEM come cavalinhos livres que passeiam pelos campos da vida? R: Franceses malvados.
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Pessoas ruins e de mau coração :( |
Não o bastante, há também a barraquinha dos frutos do mar. Peixe tá OK, camarão também, mas a galera leva o negócio mais a sério. Aqui temos crustáceos, conchas (?) e caracóis de água (ahaha sei lá o nome disso).
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Conchinhas são decoração, não comida :( |
O problema dos caracóizinhos é que esses bichinhos estão vivos, então eles ficam lesmeando de um lado pro outro com suas anteninhas simpáticas. Você leva para a casa assim, torce pra nenhum rasgar a sacolinha e escapar (na velocidade de um caracol-lesma) no trajeto e joga eles na água fervente para uma morte dolorosa e sofrida.
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Caracóis-lesmas |
Bom, o brother do meu host na feira da cidade é justo quem? O dono de uma dessas barracas de crustáceos. O que a gente ganhou de brinde no fim da feira? Caracóis lesmas. Qual foi o meu jantar?
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Com maionese. Yammy. |
Enfim, ter uma fazenda orgânica não é tão simples assim. Meu host trabalha de segunda a sexta na roça e aos fins de semana vai para as feiras. É muito muito muito trabalho, mas também é super compensador. A comida tem muito mais gosto e, se pra mim foi um prazer ver as pessoas comprando os alimentos que eu colhi, imagina para o meu host, que é o responsável por tudo. Em uma das nossas conversas ele me disse que trabalhou por anos em escritórios e quando o primeiro filho nasceu eles se mudaram de Paris para uma vida mais calma. Demorou mais alguns anos (e dois filhos) para ele conseguir largar o mundo corporativo e ter seu próprio negócio orgânico. E mesmo com as pessoas dizendo que ele é louco - largar um apartamento em Paris, um bom salário, facilidades das grandes cidades - ele não poderia estar mais feliz :D
Quem seriam os loucos então? :)
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